É possível controlar as emoções?

Estudar as emoções não é tarefa fácil, e o entendimento sobre elas varia de acordo com a escola teórica que sustenta a linha argumentativa de quem fala sobre elas.

Isto posto, comento algumas perspectivas sobre elas a partir da Psicologia Analítica. Penso ser importante mencionar isso, pois algumas premissas vão diretamente contra algumas ideias hegemônicos divulgadas especialmente na internet/redes sociais, que surgem de outras linhas de pensamento (o que tem de “especialista” em neurociência hoje em dia, não tá escrito!!!).

Coloco em três tópicos para facilitar a sua leitura e, ao mesmo tempo, deixar claro alguns posicionamentos.

1. É possível controlar as emoções?

Não! Costumo dizer que as emoções são como órgãos do corpo humano, ou seja, elas atuam porque são evocadas por uma espécie de automatismo, e não porque a consciência escolheu. Exemplo: desafio você, agora, por vontade consciente, parar o processo de filtragem do sangue que seu rim faz… conseguiu? Eu sei que não! Um rim que não cumpre com o seu papel, é um rim disfuncional, que carece de tratamento ou, não raro, transplante. Tirando a parte do transplante, o mesmo vale para as emoções.

 A questão não é controlar as emoções e sim compreender o que leva a emoção a ser evocada e, ao mesmo tempo, compreender o que ela traz em seu processo. A emoção nos avisa de alguma coisa e conseguimos controlar, no máximo, seus efeitos. Quem nunca controlou o choro diante de um filme por não ficar com vergonha de alguém ali do lado? O choro, efeito da emoção, pode ser controlado, mas a vontade de chorar, que é a emoção em si, não foi controlada.

2. Quais são as emoções boas e as emoções ruins?

Essa é uma das maiores bobagens propagadas na Web – pelo menos quando me fundamento em Jung. Me lembro do personagem Alex do Laranja Mecânica, que foi submetido a um tratamento que visava “tirar a violência” dele. O resultado é que ele ficou uma pessoa totalmente desarmada, negativamente exposta, sem conseguir se defender de coisas básicas, sem emoção. Pois bem, as emoções existem porque precisam existir – ou agora vão inventar que ter rins é ruim?

Não tem órgão bom ou ruim, tem órgão funcional ou disfuncional, ou seja, as emoções são, ponto. Mas elas podem ser disfuncionais a depender do contexto e, ao mesmo tempo, umas terem mais ênfase que outras, também a depender do contexto.

Em outras palavras, ter raiva, por exemplo, não é ruim, mas ter raiva exacerbada, a ponto de querer fazer “brake-check” no trânsito só para mostrar como você é “o bonzão do volante” é um exemplo da disfuncionalidade da emoção. Ter raiva da fechada que você levou, não é uma escolha, ela só vem, mas entender por que essa raiva fica tão exagerada por algo que é, em tese, uma bobagem, é uma disfuncionalidade e isso deve ser investigado.

Quero dizer que, raiva, tristeza, medo, dentre outras, não são emoções ruins, elas apenas são! O medo pode ser tão disfuncional quanto uma alegria fora de contexto, a exemplo de pessoas que procuram disfarçar profundas dores psíquicas com piadas e/ou risos forçados.

3. E de onde surgem as ideias acima?

Sempre da Psicologia Analítica. No universo junguiano as emoções e os complexos afetivos tonais, são quase a mesma coisa. Entrar numa tentativa de diferenciar aqui seria um investimento desnecessário. Por hora, precisamos saber que tais complexos não são sinônimos de traumas ou coisas ruins necessariamente. Eles são estruturas emocionais que nos dão referencialidade, valor, grau de importância etc. para situações triviais da vida, sempre na perspectiva emocional.

Todos nós temos um universo de complexos no campo psique – mas eu sei que fica difícil entender essa premissa diante de uma propagada visão que gruda a palavra “complexo” na palavra “trauma”. De qualquer forma, pensemos que umas pessoas choram quando assistem Titanic enquanto outras ficam entediadas ou soníferas com o andamento do filme. Seja como for, cada um deste grupo de pessoas está sendo sensibilizado por complexos (ou emoções) que encontram correspondência no filme, isto é, o que para alguns evoca a tristeza, em outros evoca o tédio.

Vale a pena considerar esta visão quando você estiver diante de uma pessoa que todo mundo acha legal demais e você a acha extremamente chata – que tipo de emoção esta pessoa te desperta o que ela tem a ver com você (independentemente do que a pessoa é)?

Por fim…

Mais do que escarnecer ou hipervalorizar as emoções, nosso maior desafio é entender por que e para que elas surgem, tanto no contexto externo, quando são sensibilizadas por experiências objetivas, assim como entendê-las no campo das experiências interiores da psique, em suas funções subjetivas e fundamentais para a atuação saudável da psique. Essa é a proposta da Análise Junguiana!

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