A análise junguiana

Costumo dizer que minha escrita não é exatamente fruto de uma ação do ego, e sim uma espécie de “escrita automática”. É como se bastasse eu me posicionar diante de um teclado que o texto “vaza” pela ponta dos meus dedos. A consequência disso, muitas vezes, é a produção de textos longos, potencialmente enfadonhos para serem lidos na sociedade da velocidade (ou do cansaço, como diria Byung-Chul Han).

Com este blog intenciono (mas sem compromisso de que o seja sempre assim) servir a essa parcela da população que prefere ler textos mais curtos, deixando os textos mais longos para as publicações já feitas em periódicos acadêmicos ou até mesmo para o Blog do IJEP, instituição que sou integrante. Também quero escrever mais livremente, sem o dever da fundamentação acadêmica.

E para o texto inaugural deste novo site optei pelo óbvio: comentar algo sobre o processo de análise junguiana. Tanto em minha fala ou escrita raramente utilizo o termo “terapia” ou “psicoterapia”, pois entendo estes dois termos dedicados a demonstrar processos que levam à cura de algo. No caso da análise não visamos a cura literalmente, mas antes o entendimento, vislumbrando que este traga a cura, literal ou simbólica – pois nem tudo pode ser literalmente curado, mas simbolicamente, possivelmente, sim!

Diferentemente do que se acredita o senso comum, a maioria das pessoas que procuram pela análise não têm, necessariamente, uma questão psicopatológica a ser curada. Na verdade, são pessoas comuns, como você e eu, que passam por situações naturais da vida, tais como dúvidas, anseios, desejos, dilemas, obstáculos, confrontos, frustrações e outros, que podem ser todos resumidos em uma palavra: angústia!

Essa angústia nem sempre vira uma doença, mas às vezes ela se transmuta em depressão, ansiedade, burnout, pânico, manias e/ou obsessões. E independentemente do que se diga em sentido estrito, poderíamos afirmar que a leitura, a priori, que a Psicologia Analítica faz dessa angústia, patologizada ou não, é que ela não surge ao acaso; ela surge do efeito de uma “batalha” entre algo na consciência que “discorda” de outro algo, mas que provém do inconsciente.

Nesse caso, ao invés de suprimir o que o inconsciente tem a dizer, nossa proposta prevê exatamente o contrário. A análise visa elucidar o que o inconsciente está tentando demonstrar, dar “voz” à essa linguagem simbólica, para que seja permitido à consciência agir ativamente e criativamente sobre os conteúdos inconscientes, ao invés de apenas sofrer, digamos, seus efeitos indesejáveis.

Não queremos “domar” nem “controlar” o inconsciente, como outros modelos terapêuticos sugerem, pois partimos do princípio de que o inconsciente é autônomo, tal e qual grande parte da atividade fisiológica do nosso corpo, portanto, queremos entendê-lo, o que é significativamente diferente de, supostamente (pois não cremos nisso), controlá-lo.

A partir deste movimento, diz a literatura acadêmico-científica especializada, e diz nossa experiência analítica, que a angústia é reduzida, outorgando à consciência novas perspectivas, assim como valorizando o conteúdo do inconsciente, que apesar de poder ser tirânico e destruidor, também pode ser criativo e transformador.

É por isso que todo conteúdo produzido naturalmente pela psique, como os sonhos, as imaginações, as expressões artísticas e outros são ferramentas e bússolas para nosso trabalho. Não queremos dizer o que é “certo” ou “errado”, não queremos moralizar, não queremos estabelecer regras, e sim auxiliar, via relação analista e analisando, a construção de um novo termo entre a consciência e inconsciente, de modo que se satisfaça de maneira relativa tanto a consciência como o inconsciente.

Para que a análise cumpra com seus objetivos é fundamental que se tenha constância, é por isso que no nosso trabalho a frequência semanal é fundamental para a construção de um processo que intenciona ser profundo. Apesar do desejo de algumas pessoas conduzirem processos quinzenais, e alguns analistas praticarem desta forma, o método que propomos aqui é o mais alinhado possível ao que fora praticado por Carl Gustav Jung, que enseja encontros, pelo menos, uma vez por semana – Jung encontrava seus analisandos de 2 a 4 vezes por semana!

Talvez o artigo tenha ficado menos curto do que eu desejava, mas acho que o essencial sobre a análise, considerando descrevê-la em poucas palavras, foi dito acima. Nos procure no Instagram para trocar ideias sobre este texto e outras questões relacionadas a Jung. Grande abraço!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *